Um município Estado

Comparação do tamanho do município de Manhuaçu de 1890 e 2013

Manhuaçu é uma cidade polo de uma importante região sob a influência do Maciço do Caparaó, possuindo uma economia que lhe projeta entre as maiores cidades do Estado de Minas Gerais. A importância desta cidade para a região vem dos primórdios da colonização do norte da Zona da Mata e Rio Doce. Quando ocorreu a sua emancipação na segunda metade do século XIX, a extensão territorial do município provava a sua influência política sobre os demais povoados.
A Vertente Ocidental da Serra do Caparaó foi uma das últimas regiões colonizadas em todo o Sudeste do Brasil, fato que se iniciou apenas na segunda década do século XIX. Uma série de fatores contribuiu para que isso acontecesse, entre eles, o interesse apenas sobre as áreas que concentravam riquezas minerais, como Vila Rica e Diamantina, as matas fechadas que ainda existiam nesta região, os índios puris que não eram amistosos ao homem branco e o relevo de montanhas, que dificultava a penetração dos colonizadores. 
Até o início do século XIX, apenas alguns desbravadores se arriscavam por esta região. Como foi o caso de Domingos Fernandes de Lana, autorizado pela curadoria dos índios para estabelecer com os puris o comércio da ipecacuanha, ou poaia. Com tenacidade este desbravador enfrentou as adversidades, improvisando passagens, abrindo trilhas que mais tarde se transformariam em caminhos permanentes para os mais diversos pontos da região.
Poucos anos depois o governo provincial enviou o Guarda-Mor Luiz Nunes de Carvalho e o Alferes José Rodrigues de Siqueira Bueno, para representa-lo na região. Eles construíram uma fortificação nas margens do Ribeirão de São Luiz e organizaram os primeiros estabelecimentos agrícolas. Por volta de 1830, militares ocuparam terras da região por estabelecimento de sesmarias ou apossamento. Formou-se então um aldeamento de índios em terras do Ribeirão São Luiz em 1843. Neste período aconteceram os primeiros conflitos entre os brancos e os índios, motivados pelos excessos cometidos pelos colonizadores.
É nesta época também que surgiu o sertanista Antônio Dutra de Carvalho, estabelecendo-se nas cercanias da Cachoeira da Mata, tomando posse da primeira propriedade de um grande latifúndio que se formaria nos anos seguintes. Os limites de suas terras foram estabelecidos, estendendo-se por três léguas de largura em cada margem do rio Manhuaçu, por nada menos de outras três léguas de fundos. Em 1846, o sertanista alugou índios junto à curadoria e abriu a primeira estrada da região. Os caminhos de carros se alongaram por toda a região onde passaram a cruzar gente indômita em busca de terras e comércio. Iniciou-se assim o cultivo de café.
Habitações simples se multiplicaram por entre os três principais povoados que surgiram nestas terras: o arraial de Santa Margarida e as povoações de São Simão e de São Lourenço. O Governo Provincial, diante do progresso da região com uma população rural considerável, em uma área ainda sem demarcações definitivas entre as províncias de Minas Gerais e Espírito Santo, decidiu criar um município para atender a esta população. Como os povoados não possuíam ainda qualquer infraestrutura para atender este novo município, ficou decidido que o seu nome seria Município do Rio Manhuaçu, em referência ao grande rio que corta a região e criado em 5 de novembro de 1877. Para a sua sede ficou escolhido o povoado de São Simão, atual cidade de Simonésia. 
Nesta época, o povoado de Manhuaçu contava com uma população fervorosamente política e com laços estreitos com os dirigentes em Vila Rica, então capital da província. E este contato forte com o governante faz surgir um movimento emancipacionista no arraial de São Lourenço do Manhuaçu, que reivindicava ser a sede do município. Organizados e reunidos em torno do Tenente-Coronel Antônio Rafael Martins de Freitas, veterano da Guerra do Paraguai, a população requereu a emancipação e também introduz melhoramentos na vila, construindo um autêntico programa de obras públicas. As autoridades estaduais se renderam então à pressão e em 13 de janeiro de 1880, promulgaram a lei 2.557 transferindo para a Vila de São Lourenço do Manhuaçu a sede do município do Rio Manhuaçu. E já em 1881 foi conferido a este povoado o foro de cidade.
A extensão de terras pertencentes ao recém-formado município de Manhuaçu já foi quase do mesmo tamanho do Estado do Sergipe e de um tamanho superior a de alguns países do mundo na atualidade, como o Kuwait ou Porto Rico. Na época de sua emancipação, o município possuía uma extensão territorial de 18.102,51 km², ou pouco mais de três por cento do território de Minas Gerais. Com os seus atuais 627,3 km², o município possui como área territorial apenas 4% daquela que lhe foi conferida em 1877.
Já na década seguinte à sua emancipação, o constante crescimento populacional da região, motivados principalmente pelas riquezas trazidas pela produção de café, forçou a fragmentação do imenso município. Em 1888 a região onde hoje está situado o município de Matipó é anexada ao município de Abre Campo. Dois anos após o distrito de Caratinga é emancipado, seguido do distrito de Santo Antônio do Rio José Pedro, atual Ipanema. E nas décadas que se prosseguiram, outros distritos, como Manhumirim e Simonésia também conquistaram sua autonomia administrativa. Juntamente com estas emancipações, os novos municípios levavam uma grande quantidade de outros distritos, fragmentando sucessivamente o município original. Um exemplo disso foi o município de Manhumirim, que por força de sua emancipação em 7 de setembro de 1923, transferiu para o seu território os distritos de Alto Jequitibá, Alto Caparaó, Caparaó, Durandé e Martins Soares.
Manhuaçu se fragmentou ainda mais a partir da segunda metade do século XX. Mas apesar desta perda considerável de seu território, a cidade continuou a se firmar economicamente e hoje recebe a atenção dos principais melhoramentos públicos e privados da região. E tais fatores permitem que o município ainda se projete como polo de desenvolvimento do leste do Estado de Minas Gerais.


Publicado em 16 de junho de 2013.

Primeiro Banco Hipothecário, Hoje Palácio da Cultura de Manhuaçu