Banco Hipothecário |
Um município se projeta entre os demais, quando são realizados grandes feitos ao longo de sua história. E Manhuaçu possui uma grande história, contada ao longo de seus quase dois séculos de constituição desde os primeiros desbravamentos de nossa região. A cidade passou por grandes efervescências políticas e sociais. E se alternou durante as décadas de sua história por momentos de relevância e também por outros de ostracismo. Mas apesar desta alternância, a verdade é que a cidade sempre foi polo do desenvolvimento da Vertente Ocidental do Caparaó e também de cidades vizinhas localizadas do outro lado da divisa estadual.
Sempre, desde a sua emancipação política, o seu povo provou ser capaz de conduzir a região para o progresso. E este destaque era refletido nos centros de decisões políticas, estadual e nacional. A cidade sempre colheu os frutos de sua vanguarda.
Mas talvez em nenhum momento de toda a sua história, houve um período tão relevante e de tamanha ascendência como o vivenciado na segunda metade dos anos 20 do século passado. Esta década ofereceu para a cidade quatro obras que, por sua grandiosidade, se destacam até os dias de hoje. Em um curto período de tempo, mais precisamente em um espaço inferior a cinco anos, estes feitos deram ao seu povo a satisfação e o orgulho de viverem nesta cidade. Quatro obras que projetaram a sua importância para as demais cidades da região.
A primeira grande obra foi idealizada e construída por um sergipano, manhuaçuense de coração: João Cesar D’Oliveira Leite. Um médico humanista que deixou a sua marca não apenas pelas ações de solidariedade para com o próximo, ou pelos escritos de seu jornal ‘O Independente’. Seu maior feito está perpetuado ali na praça que leva o seu nome, na região central de Manhuaçu: a imponente construção que abriga o Hospital César Leite (HCL), que o homenageia com o seu nome.
Igreja Matriz de São Lourenço |
Toda a imponência e já na época citada como majestosa obra foi fruto da determinação do médico e de seus seguidores, empreendedores como ele. Mas mesmo contando com a persistência de seus idealizadores e também da população, o HCL levou oito anos para ser concluído. Principalmente o Dr. César Leite buscou recursos para cada tijolo que foi assentado na obra. O médico chegou a colocar dinheiro do próprio bolso e vendeu parte de seu patrimônio para que a construção não fosse paralisada. O hospital foi entregue em definitivo para a população de Manhuaçu e região no ano de 1934.
A segunda grande obra está no início da cidade, visível e ainda necessária para o fluxo de veículos e pessoas no perímetro urbano de Manhuaçu: a nossa ‘Ponte de Cimento’. Este nome denominou a ponte por seis longas décadas, sendo ainda hoje conhecida pelos mais antigos desta forma. Afinal, foi a primeira ponte construída em concreto armado da cidade, que até então convivia com construções em madeira para a travessia do Rio Manhuaçu.
Ponte dos Arcos na década de 1970 |
Neste mesmo ano de 1928 a terceira grande obra era inaugurada em Manhuaçu. O majestoso prédio da Igreja Matriz de São Lourenço, que permanece imponente no Centro da cidade e cumprindo o seu propósito, que foi o de ser erguido para se tornar um marco da fé de seu povo. Esta obra foi o sonho maior do Monsenhor José Maria Gonzalez, pároco recém-chegado a Manhuaçu e que, com o apoio de muitos cidadãos no dia 10 de agosto de 1917, com parcos 28 réis, lançou a pedra fundamental da nova Matriz. Foram dez anos ininterruptos de construção, até a sua grandiosa e aguardada festa de inauguração, no dia 20 de setembro de 1928. Uma festa que se estendeu até o dia 23 daquele mês, recebendo a cidade bispos até do estado do Rio de Janeiro, além de dezenas de sacerdotes e a população católica de toda a região.
E a quarta grande obra foi inaugurada em 1929, apenas dois anos após o início de sua construção: o prédio do Banco Hipothecário e Agrícola de Minas Gerais. Atualmente este prédio é conhecido como o Palácio de Cultura de Manhuaçu, abrigando a Casa de Cultura e a Academia Manhuaçuense de Letras.
Tudo é imponente nesta obra em alvenaria de tijolos maciços. Os materiais foram todos eles trazidos de trem direto da cidade do Rio de Janeiro, a então Capital do país. E tão ou mais imponente quanto esta construção, foram as suas portas e janelas em ferro forjado que foram importados da França. Para a sua confecção não se importou profissionais de fora, apesar da encomenda ter sido feita a um estrangeiro. Mas não um estrangeiro qualquer, e sim a um libanês tão manhuaçuense como qualquer outro nascido nestas terras: Lutfala Fadlala Abdala, ou simplesmente, o Sr. Lutfala.
Foram cinco anos marcantes em uma década de ouro para Manhuaçu. Um curto período na grandiosa história deste município, mas que propiciou para todos estes quatro marcos, que estão até hoje cumprindo o seu papel de perpetuar a força de seu povo.
Publicado em 23 de junho de 2013.