Construção da Igreja Matriz de São Lourenço |
A grande maioria dos municípios em todo o país, não sendo diferente também aqui em Minas Gerais, comemoram a fundação do povoado como a data efetiva a ser lembrada. Outros vão além e determinam a colonização do lugar como a data mais importante do calendário municipal. E partindo deste fundamento, Manhuaçu é hoje uma cidade ainda mais antiga do que aquela registrada como feriado municipal em 5 de novembro.
A vila de São Lourenço de Manhuaçu foi fundada alguns anos antes de sua emancipação. Pelos registros isso aconteceu em 1869. Deste modo, deveria se considerar a cidade com a idade de 144 anos no próximo mês de novembro. Mas se formos ainda mais para trás e reconhecermos a época do primeiro aldeamento, que ocorreu por volta de 1843, então a cidade fará em novembro 170 anos. Se preferirmos continuar a recuar no passado, copiando alguns municípios e passando a comemorar o início da colonização da região onde hoje está situado o município, que ocorreu com a chegada dos primeiros fazendeiros, deveremos então reconhecer o ano de 1824. Deste modo, Manhuaçu está próximo de comemorar 189 anos.
É certo então afirmar que, quase duzentos anos separam a cidade de hoje com aquela região que recebeu os primeiros colonizadores, que buscavam na agricultura e na pecuária uma saída econômica motivada pelo declínio da extração aurífera na região de Vila Rica.
Sociedade Musical Santa Cecília, em 1913 |
Os primeiros grupos de sertanistas ou desbravadores que chegaram às partes dos rios Pomba, Muriaé e Manhuaçu tinham como objetivo a captura dos índios para trabalharem como escravos nas fazendas da capitania do Rio de Janeiro. Houve também outros motivos para esta colonização, como a busca pela poaia, uma planta de uso medicinal e a tentativa de se encontrar novas lavras minerais para serem extraídas. Além de buscas de riquezas minerais e medicinais houve a intenção de instalarem aqui as primeiras fazendas, já que eram notórias entre os sertanistas as terras férteis que havia nesta região.
Deste período a região reconheceu seu primeiro herói entre os sertanistas, na pessoa de Domingos Fernandes de Lana, que nas primeiras décadas do século XIX explorou a vertente ocidental da Serra de Caparaó, no leste da capitania de Minas Gerais. E juntamente com os índios nativos, estabeleceu comércio de poaia e abriu caminho para diversos pontos, recebendo o título de desbravador do local.
Para ampliar a colonização nos sertões mineiros, o governo imperial enviou várias cartas a diversas pessoas. A natureza desta ação era o empenho nas descobertas de novas minas de ouro. A Coroa oferecia aos interessados , as terras que descobrissem, destinando ao Império apenas um quinto do que fosse encontrado.
Quando a região norte da Zona da Mata mineira começou a ser explorada, os descendentes de Joaquim Gonçalves Dutra conseguiram dominar e explorar uma grande extensão territorial. Estas terras estavam em uma região onde hoje estão localizados os municípios de Manhuaçu, Ipanema e Caparaó. Isso ocorreu em um período em que as fronteiras entre as províncias de Minas Gerais e Espírito Santo ainda não estavam demarcadas, havendo grande interesse do Espírito Santo sobre as terras onde hoje está localizada Manhuaçu.
O declínio do ouro intensificou o processo de ocupação da Zona da Mata. Em 1830, a pecuária começou a desdobrar-se para o interior do estado e o café foi expandindo-se. A região onde está hoje Manhuaçu foi influenciada, passando a adotar o produto como sua principal cultura. A população deixou a região aurífera e foi para as lavouras de café. Entre 1822 e 1880, a macrorregião da Zona da Mata viu seu número de habitantes saltar de apenas 20 para mais de 400 mil pessoas.
Nesta época o café já era o principal produto de exportação de Minas Gerais, sendo a Zona da Mata a maior produtora. Começou pela fronteira com o Rio de Janeiro e depois foi se interiorizando em Minas Gerais.
De acordo com alguns registros, como forma de pacificar os indígenas que lutavam bravamente contra os invasores brancos na área que hoje corresponde a Manhuaçu, em 1843 foi fundado um aldeamento pelo curador Nicácio Brum da Silveira, no local onde hoje é o bairro Ponte da Aldeia.
Pelas informações contidas nestes registros Manhuaçu então não é uma cidade centenária. Ela é quase bicentenária. E são enormes os benefícios que poderiam advir deste fato, destacando-se entre eles o benefício cultural, pois uma região com uma cultura bicentenária deixa de ser de relevância apenas regional ou estadual e passa a ser de relevância mundial. Com um trabalho de resgate histórico bem realizado, nossa região poderia passar a receber recursos provenientes da Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (UNESCO), como acontece com outras cidades históricas mineiras.
Publicado em 9 de junho de 2013.
De acordo com os registros históricos, Manhuaçu está próximo de completar 189 anos |