A idade de Manhuaçu


Construção da Igreja Matriz de São Lourenço
A cada ano, todo dia 5 do mês de novembro comemora-se o aniversário de emancipação política do município de Manhuaçu. De acordo com os registros históricos, a vila de São Lourenço de Manhuaçu foi elevada à categoria de cidade nesta data do ano de 1877. Deste modo, será comemorado no próximo dia 5 de novembro o 136º aniversário da cidade. Porém, ávidos com as comemorações do aniversário da cidade, as autoridades municipais relegaram para o papel secundário a data de criação do povoado de São Lourenço de Manhuaçu. 

A grande maioria dos municípios em todo o país, não sendo diferente também aqui em Minas Gerais, comemoram a fundação do povoado como a data efetiva a ser lembrada. Outros vão além e determinam a colonização do lugar como a data mais importante do calendário municipal. E partindo deste fundamento, Manhuaçu é hoje uma cidade ainda mais antiga do que aquela registrada como feriado municipal em 5 de novembro.
A vila de São Lourenço de Manhuaçu foi fundada alguns anos antes de sua emancipação. Pelos registros isso aconteceu em 1869. Deste modo, deveria se considerar a cidade com a idade de 144 anos no próximo mês de novembro. Mas se formos ainda mais para trás e reconhecermos a época do primeiro aldeamento, que ocorreu por volta de 1843, então a cidade fará em novembro 170 anos. Se preferirmos continuar a recuar no passado, copiando alguns municípios e passando a comemorar o início da colonização da região onde hoje está situado o município, que ocorreu com a chegada dos primeiros fazendeiros, deveremos então reconhecer o ano de 1824. Deste modo, Manhuaçu está próximo de comemorar 189 anos.
É certo então afirmar que, quase duzentos anos separam a cidade de hoje com aquela região que recebeu os primeiros colonizadores, que buscavam na agricultura e na pecuária uma saída econômica motivada pelo declínio da extração aurífera na região de Vila Rica.
Sociedade Musical Santa Cecília, em 1913
Os primeiros grupos de sertanistas ou desbravadores que chegaram às partes dos rios Pomba, Muriaé e Manhuaçu tinham como objetivo a captura dos índios para trabalharem como escravos nas fazendas da capitania do Rio de Janeiro. Houve também outros motivos para esta colonização, como a busca pela poaia, uma planta de uso medicinal e a tentativa de se encontrar novas lavras minerais para serem extraídas. Além de buscas de riquezas minerais e medicinais houve a intenção de instalarem aqui as primeiras fazendas, já que eram notórias entre os sertanistas as terras férteis que havia nesta região.
Deste período a região reconheceu seu primeiro herói entre os sertanistas, na pessoa de Domingos Fernandes de Lana, que nas primeiras décadas do século XIX explorou a vertente ocidental da Serra de Caparaó, no leste da capitania de Minas Gerais. E juntamente com os índios nativos, estabeleceu comércio de poaia e abriu caminho para diversos pontos, recebendo o título de desbravador do local.
Para ampliar a colonização nos sertões mineiros, o governo imperial enviou várias cartas a diversas pessoas. A natureza desta ação era o empenho nas descobertas de novas minas de ouro. A Coroa oferecia aos interessados , as terras que descobrissem, destinando ao Império apenas um quinto do que fosse encontrado.
Quando a região norte da Zona da Mata mineira começou a ser explorada, os descendentes de Joaquim Gonçalves Dutra conseguiram dominar e explorar uma grande extensão territorial. Estas terras estavam em uma região onde hoje estão localizados os municípios de Manhuaçu, Ipanema e Caparaó. Isso ocorreu em um período em que as fronteiras entre as províncias de Minas Gerais e Espírito Santo ainda não estavam demarcadas, havendo grande interesse do Espírito Santo sobre as terras onde hoje está localizada Manhuaçu.
O declínio do ouro intensificou o processo de ocupação da Zona da Mata. Em 1830, a pecuária começou a desdobrar-se para o interior do estado e o café foi expandindo-se. A região onde está hoje Manhuaçu foi influenciada, passando a adotar o produto como sua principal cultura. A população deixou a região aurífera e foi para as lavouras de café. Entre 1822 e 1880, a macrorregião da Zona da Mata viu seu número de habitantes saltar de apenas 20 para mais de 400 mil pessoas.
Nesta época o café já era o principal produto de exportação de Minas Gerais, sendo a Zona da Mata a maior produtora. Começou pela fronteira com o Rio de Janeiro e depois foi se interiorizando em Minas Gerais.
De acordo com alguns registros, como forma de pacificar os indígenas que lutavam bravamente contra os invasores brancos na área que hoje corresponde a Manhuaçu, em 1843 foi fundado um aldeamento pelo curador Nicácio Brum da Silveira, no local onde hoje é o bairro Ponte da Aldeia.
Pelas informações contidas nestes registros Manhuaçu então não é uma cidade centenária. Ela é quase bicentenária. E são enormes os benefícios que poderiam advir deste fato, destacando-se entre eles o benefício cultural, pois uma região com uma cultura bicentenária deixa de ser de relevância apenas regional ou estadual e passa a ser de relevância mundial. Com um trabalho de resgate histórico bem realizado, nossa região poderia passar a receber recursos provenientes da Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (UNESCO), como acontece com outras cidades históricas mineiras.

Publicado em 9 de junho de 2013.

De acordo com os registros históricos, Manhuaçu está próximo de completar 189 anos