Manhuaçuenses integrantes da FEB em desfile da festa da cidade na década de 1950 |
A Força Expedicionária Brasileira, conhecida pela sigla FEB, era constituída por 25.334 homens que foi responsável pela participação brasileira ao lado dos Aliados na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Formada inicialmente por uma divisão de infantaria, acabou por abranger todas as forças militares brasileiras que participaram do conflito. Adotou como lema "A cobra está fumando", em alusão ao que se dizia à época que era "mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra".
Com o início da Segunda Guerra Mundial no ano de 1939, por determinação do presidente Getúlio Vargas o Brasil manteve-se neutro, numa continuação da política de não se definir por nenhuma das grandes potências. O pensamento do Governo brasileiro era o de somente se aproveitar das vantagens oferecidas por elas. Mas em 1942, o Brasil foi convencido pelos Estados Unidos a ceder a ilha de Fernando de Noronha e a costa nordestina brasileira para o recebimento de suas bases militares. Tal convencimento veio através da ameaça americana de invadir o Nordeste, caso o governo Vargas insistisse em manter o Brasil neutro. A partir de janeiro do mesmo ano começa uma série de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros por submarinos ítalo-alemães na costa litorânea brasileira, numa ofensiva idealizada pelo próprio Adolf Hitler, que visava isolar o Reino Unido, impedindo-o de receber os suprimentos (equipamentos, armas e matéria-prima) exportados do continente americano. Tal agressão forçou o Brasil a declarar guerra contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) no dia 22 de agosto.
Porém só quase dois anos depois, em 2 de julho de 1944, teve início o transporte do primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira, sob o comando do general João Batista Mascarenhas de Morais, com destino a Nápoles.
Começaram-se assim as convocações em todas as partes do país. Estas convocações vinham pelo correio e ordenavam para se apresentarem em cidades como Juiz de Fora e São João Del Rei, isso de acordo com as cidades e estados de origem dos convocados. Os critérios para a convocação dos pracinhas brasileiros, como eram conhecidos os membros da FEB, permitia que aqueles que se originavam de famílias ricas ou que fossem apadrinhados, pudessem ser excluídos da lista para servir na Europa.
Manhuaçu também enviou inúmeros de seus filhos para o palco do conflito, que no caso da FEB foi a Itália. Para relacionar os nomes dos cidadãos de nossa terra que foram defender a pátria, a coluna ‘Na Lente da História’ baseou-se nas informações contidas no capítulo 16 do livro ‘Fragmentos da História de Manhuaçu’ da professora Ivonne Ribeiro de Almeida. A autora possui todas as credenciais para isso, já que foi casada com o ex-pracinha José Almeida da Silva.
Distintivo da FEB |
De acordo com este capítulo intitulado ‘2ª Guerra Mundial – Participação de Manhuaçuenses’, de Manhuaçu participaram para a guerra nos campos da Itália no 1º Escalão da FEB: José Tito Pimentel, Jorge Miguel Pinto, José Almeida da Silva, José Cicarini da Silva, José Candinho, Natanias Heringer, Silvio Frossard, Philadelpho Araújo (FAB - Força Aérea Brasileira), Eurico Miranda, José Paulino (Marinha), Oswaldo Espichit, Emanuel Leal, Nathan Jorge (Ferro-velho) e Sebastião de Almeida. Posteriormente, outros escalões foram enviados com outros grupos de manhuaçuenses.
Chegando ao território europeu, em Nápoles, a infantaria brasileira se juntou a uma divisão do exército dos Estados Unidos. Sem armamento e preparo necessário, os militares permaneceram por mais um tempo em treinamento com os militares americanos e então receberam armas para os combates. Logo começaram as campanhas dos brasileiros na guerra, sendo que as primeiras foram muito bem desenvolvidas. Os brasileiros da FEB se saíram muito bem nos primeiros combates e foram fundamentais para as conquistas de importantes regiões da Itália.
A coluna destaca aqui parte da narrativa do ex-pracinha José Tito Pimentel, que possui sua entrevista registrada no livro de Dona Ivonne. Seu relato ilustra perfeitamente bem não apenas a visão de um brasileiro nos campos de batalha, como a visão de um manhuaçuense simples que saiu de sua cidade para defender uma causa que ele mal compreendia, retornando como um herói aclamado em nossas terras ao fim da guerra.
“Sonhava ter outra vida. Aqui eu não vivia muito bem, tinha certas dificuldades. Confesso, que a razão deste meu ato, não li exatamente a vontade de lutar. Eu era muito pobre, lutava muito pela sobrevivência de minha família e achei que seria uma solução boa para a minha vida”.
Já no palco da guerra, José Tito contou como era a situação que encontrou na Europa: “Ao chegar na Itália não tivemos nenhum contato com os colegas que vieram na frente. Chegamos ao porto de Livorno na Itália e juntamente num comboio terrestre até Piza, onde encontramos muita destruição. A baía de Nápoles com navios destruídos, prédios derrubados, ruínas por toda parte. Avistamos à beira das estradas grandes filas de pessoas abanando as mãos para nós, pedia-nos comida, estavam muito famintos”. Em seu relato ele descreve a sua função durante a guerra: “Era o 1º municiador da 5ª Cia. O municiador é aquele soldado que fornece todo tipo de bala na frente de batalha, para toda a infantaria. O meu capitão me deu três soldados à minha disposição, que me acompanhava aonde eu ia, a noite toda e durante o dia de combate. Eu era o responsável e as posições é que telefonavam pedindo munições, bazucas, ou qualquer tipo de peças, granadas, morteiros, etc.”.
Como em toda guerra, os intermináveis dias e noites de batalhas abalaram os nervos dos soldados brasileiros, não sendo diferente para José Tito. Ele lembrou de uma ocasião em que uma tropa alemã rendeu-se para a sua Cia. “Em certo momento ouvimos barulho de soldados marchando forte no chão, que vinham com as mãos na cabeça e se rendendo a nós. Tive uma grande emoção por ver aqueles homenzarrões fortes depondo as armas a frente de nós. Outra grande emoção aconteceu neste mesmo dia, quando vi um irmão nosso chegando numa padiola morto. E atrás dele vinha nove prisioneiros alemães. Eu trabalhava com uma metralhadora e ao ver aquela cena, me deu um desequilíbrio, que se não fosse o meu subcomandante, que puxou o meu braço e assim evitou que eu atirasse neles. E me falou duro, para não fazer nada com eles naquele momento. Tive uma grande reação nervosa”.
José Tito terminou o seu relato descrevendo a alegria do retorno ao Brasil após o término da guerra. “Fiquei muito emocionado quando cheguei à minha cidade, cheguei até a perder a fala. Andei à pé e até de joelhos da rua Amaral Franco até o alto do Peixoto, abraçado à minha mãe. Minha casa estava tão cheia, as pessoas me abraçavam, me davam parabéns e me chamavam de herói. Passaram-se os dias e me tornei novamente um cidadão comum. Meus netos sempre me fazem muitas perguntas com respeito da guerra, eles têm muita curiosidade em saber fatos da FEB e consideram o avô José Tito um herói de guerra, manhuaçuense que saiu daqui do interior mineiro, para defender a nossa pátria”, contou.
Do total de 25.334 brasileiros que se juntou a uma divisão do exército dos Estados Unidos para combater na Itália, 471 perderam suas vidas em solo europeu, sendo 450 praças, 13 oficiais e 8 pilotos.
Esta semana completou 69 anos que a Cia. onde José Tito servia partiu para a Europa com o objetivo de resgatar a liberdade no Velho Continente. A coluna ‘Na Lente da História’, com o auxílio do maravilhoso trabalho realizado pela saudosa Dona Ivonne pretendeu homenagear todos os cidadãos de nossa região, incluindo aqueles que não tiveram o nome citado nas linhas acima, que demonstraram um ato de coragem e heroísmo ao deixarem suas vidas aqui e lutar em terras desconhecidas.
Publicado em 22 de setembro de 2013.