Manhuaçu embalada pelo rock dos anos 60 e 70

Conjunto Almeida Boys em sua primeira
formação no ano de 1966

A cidade de Manhuaçu já passou por muitas turbulências políticas, como já foi registrado aqui mesmo nesta coluna através de revoltas e revoluções. Sua vanguarda na região também já foi retratada aqui, destacada através das arquiteturas atraentes aos olhos e imponentes para uma época, como o Palácio de Cultura, a Igreja Matriz de São Lourenço, O Hospital César Leite (HCL) e a Ponte dos Arcos, ou nossa eterna ‘Ponte de Cimento’. 
Porém, uma cidade se torna vanguarda quando todos os aspectos, inclusive os culturais, se transformam em referências para toda a região. E a cultura, em toda sua diversidade, seja através de obras literárias, esculturas, pinturas ou músicas, também produz diferentes ramos a serem seguidos. Tendo a música como exemplo, que pode ser clássica, contemporânea, de raiz, dançante ou melodiosa, capaz de atingir a massa ou apenas um público específico, a verdade é que este gênero cultural atrai toda a humanidade. E sempre um determinado gênero musical surge e origina uma revolução de pensamentos, ideias e até mesmo de valores. Foi assim com o rock-and-roll, quando surgiu nos chamados loucos anos 50 e 60 do século passado, mudando toda a forma de agir e pensar de uma geração, deixando os mais velhos horrorizados com os novos conceitos que surgiam de repente.
Manhuaçu também vivenciou estes acontecimentos e também os cidadãos mais antigos da cidade ficaram perplexos com a efervescência causada por aquele som ruidoso que saía das guitarras, baterias e contrabaixos. E como vanguarda, ela também produziu seu próprio conjunto de rock inspirado nos quatro garotos de Liverpool que haviam conquistado o planeta. Surgiu aqui o famoso e ainda muito lembrado conjunto musical ‘Almeida Boys’, que embalou os jovens no espaço preferido da cidade: o Clube Recreativo de Manhuaçu, localizado na região central da cidade, no prédio onde hoje funciona o banco Sicoob da Praça Cinco de Novembro.
Para contar a trajetória do ‘Almeida Boys’, esta coluna usou como referência um livro que dedicou todo um capítulo a este conjunto musical. E a escritora deste livro não poderia possuir maiores credenciais para citar a trajetória dos componentes da banda, uma vez que era a mãe dos fundadores do conjunto: a saudosa Dona Ivonne Ribeiro de Almeida. As linhas a seguir têm como referência as páginas 151, 152, 153, 154 e 155 do livro ‘Fragmentos da História de Manhuaçu’ escrito pela professora e editado no ano de 2008.
O empresário do setor de educação em Manhuaçu, Flávio de Almeida, então um jovem que havia aprendido seus primeiros acordes de violão quando era estudante do Colégio Evangélico de Alto Jequitibá, recebeu um violão de presente de seu avô e outro de segunda mão de seu pai. A partir de então o jovem passou a tocar em reuniões com amigos, mas sempre de forma amadora, até que em um determinado dia, enquanto tocava com os amigos na Praça Cordovil Pinto Coelho, conheceu “Preto”, que se torno amigo e professor na arte da música. Deste modo a música definitivamente se tornava marca registrada da família.
Flávio foi estudar no Rio de Janeiro e seus irmãos Rogério, Hélio e José, que sofriam a influência dos ‘The Beatles’ continuaram a respirar música em Manhuaçu. Segue um trecho do livro que descreve a formação da banda: “Aos 12 anos, José de Almeida Júnior se revelava um grande músico, a alma do que seria o ‘Almeida Boys’. O Hélio, que tocava violão, foi para a bateria. O Camilo Cicarini, da turma do José, tornou o vocalista do grupo. O Coquinho (Augusto Pereira) e o Maurício Campos assumiram a guitarra base e o contrabaixo, que junto com o Rogério Almeida, bom guitarrista solo. Eles formaram a base do Conjunto Irmãos Almeida, primeiro nome da banda”.
Incentivados e acompanhados pelo pai, José de Almeida, eles seguiram para São Paulo, onde compraram os instrumentos necessários para a nova banda. O conjunto estreou na cidade de Caratinga no ano de 1966. A partir desta noite de estreia, o conjunto Almeida Boys se tornou um sucesso em toda a região e também fora dela, culminando com uma apresentação na TV Tupi do Rio de Janeiro no programa ‘Almoço com as Estrelas’, que dominava a audiência das tardes de sábado em todo o país.
Ao longo de sua existência, o conjunto musical mudou algumas vezes a sua formação. Na primeira delas, Rogério saiu para cursar medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Maurício saiu para se preparar para o vestibular. Já Flávio retornou para Manhuaçu e se integrou ao conjunto juntamente com Carlos Roberto Vargas (Cacau). Houve inúmeras outras formações, mas com o conjunto mantendo sempre a sua qualidade e fama, sendo sempre liderado pelo saxofonista José de Almeida.
A banda chegou ao fim no ano de 1977, ainda em uma fase de grande sucesso na região, pois seus componentes sentiram-se na necessidade de trilharem seus próprios caminhos. O Almeida Boys foi considerado uma das melhores bandas do Estado de Minas Gerais.
Ao longo de sua trajetória o conjunto marcou e embalou toda uma geração, sendo referência absoluta na música da cidade. Seus integrantes promoveram festivais da canção, tocaram em bailes do dia 12 de Outubro na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em bailes de Miss Brasil no Pampulha Iate Clube de Belo Horizonte entre outros inúmeros bailes por cinco estados brasileiros. Ganhou inúmeros concursos como melhor conjunto musical em diversas cidades de Minas Gerais, levando sempre o nome de Manhuaçu para os lugares onde se apresentavam.


Publicado em 15 de setembro de 2013.