O sonho dos vôos comerciais em Manhuaçu

Inauguração do Campo de Avião de Santo Amaro

A distância de Manhuaçu para a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, sempre motivou em sua população o desejo de contar com voos comerciais que fossem capazes de encurtar o tempo entre as duas cidades. Em outras épocas, a falta de rodovias pavimentadas, tornavam os quase 290 km de distância numa verdadeira aventura, que era realizada por poucos e em casos de muita necessidade. Naqueles tempos, em meados do século XX, mesmo quando os automóveis já haviam se tornado um bem de consumo ao alcance de uma parcela considerável da população, principalmente após a vinda das primeiras indústrias automobilísticas ao país, estas centenas de quilômetros ainda provocavam o sonho das viagens de avião.
A partir da década de 1960, com a criação e pavimentação da rodovia BR-262, a viagem para a capital e o seu retorno passou a ser realizada com menos de seis horas. E atualmente, com a modernização dos veículos automotores, esta mesma viagem pode ser feita em menos de quatro horas. Desde, é claro, não haja nenhum incidente que possa obstruir a rodovia. Porém, apesar desta redução de duração, a necessidade cada vez maior do ser humano em reduzir o tempo para cumprir seus compromissos, tornam este sonho de uma viagem de poucos minutos entre Manhuaçu e Belo Horizonte sempre vivos.
Manhuaçu, como polo de uma região que a cada ano se torna mais populosa, tem sonhado com a criação destas linhas de voos comerciais regulares há muito tempo. Diversas mobilizações políticas com inúmeras promessas jamais cumpridas acalentaram este sonho entre seus habitantes. Recentemente a mídia da região noticiou um encontro de inúmeros prefeitos e vereadores de cidades vizinhas, que pretenderam criar um movimento que fosse capaz de sensibilizar as autoridades estaduais. E o movimento realizado em março deste ano no aeroporto localizado no distrito de Santo Amaro de Minas, não foi diferente daqueles que aconteceram em outros tempos.
Há mais de 60 anos, mais precisamente no dia 06 de setembro de 1951, o jornal ‘A Tribuna’, que circulava em nossa cidade já noticiava a possibilidade da criação dos voos comerciais. Naquelas linhas, a empolgação da matéria induzia para um sonho que seria finalmente concretizado:
“Seria ocioso escrever agora a inauguração da linha aérea Manhuassú-Belo-Horizonte, em boa hora instalada pela OMTA. Já os jornais da capital mineira nos deram conta, em amplas e ilustradas reportagens, dos mínimos pormenores deste acontecimento. E falar agora, quando todos já leramo bastante, seria deitar uma gota no oceano”. E prossegue no parágrafo seguinte: “O que importa, porem, é que segundo declarações do Prefeito Etelvino Guimarães, está dependendo apenas de mais uma pista a inclusão de Manhuassú na rede aeroviária da Companhia Nacional de Transportes Aéreos, empresa cujas linhas se estendem por todos os pontos do país". E o artigo segue nas próximas linhas: “Para atender estas exigências o Prefeito Etelvino Guimarães já solicitou ao Secretario da Viação a ajuda necessária, tendo este lhe prometido uma verba de cem mil cruzeiros para ampliação do campo de pouso”. E no parágrafo seguinte conclui a matéria: “Cumprida a promessa, Manhuassú ficará servida com linhas regulares para os mais distantes pontos do paiz, atravez de aviões confortáveis e modernos com capacidade para vinte e oito passageiros. Segundo nos declarou, o Prefeito Etelvino Guimarães espera para breve a ajuda prometida”.
Bem, a empresa OMTA já não existe mais e mesmo se procurarmos nos sites de buscas da internet, não conseguiremos localizar uma referência sobre ela. Os cem mil cruzeiros não foram disponibilizados aos cofres públicos municipais e esta moeda também já deixou de circular no país. O campo de pouso foi substituído cinco anos depois pelo campo de avião de Santo Amaro, inaugurado em 1956, também com a esperança de atender às exigências necessárias para a implantação de uma linha aérea comercial. Onde estava localizado o campo de pouso relatado na matéria existe hoje o bairro São Francisco de Assis.
E o sonho do voo comercial? Passados pouco mais de 60 anos deste relato, a população atual de nossa cidade e de toda a região acompanhou a manifestação promovida pelos prefeitos das cidades que compõem a microrregião de Manhuaçu. Que ainda se mobiliza com o objetivo de sensibilizar as autoridades do Estado de Minas Gerais e dos órgãos reguladores do transporte aéreo brasileiro para que os voos regulares se transformem em realidade.
O campo de avião de Santo Amaro passou por grandes transformações há cinco anos, recebendo torre de comando, pista pavimentada entre outras melhorias. Transformou-se recentemente em Aeroporto Regional de Santo Amaro de Minas, que também recebeu a denominação de Aeroporto Elias Breder e também de Aeroporto Regional Parque do Caparaó. Porém, tão incerto quanto a sua denominação final, é a concretização do sonho do vôo comercial regular.
E para toda a população que compõe esta região, ler as matérias divulgadas pelas mídias sobre a manifestação de março deste ano, em nada se difere com as linhas publicada no ano de 1951 pelo jornal ‘A Tribuna’, que consta hoje nos arquivos históricos da Câmara Municipal de Manhuaçu e também na Casa de Cultura e gentilmente cedido para ilustrar este texto. A verdade é que a implantação do vôo comercial regular em Manhuaçu ainda é um sonho não realizado.


Publicado em 19 de maio de 2013.
Reprodução de matéria do jornal A Tribuna de 6 de setembro de 1951