Dulce Primo, maestrina das crianças

Maestrina Dulce Primo

No domingo especial em que se comemorou o Dia das Mães em 2013, a coluna ‘Na Lente da História’ foi apresentada de uma forma também especial. Neste segundo domingo de maio, pretendemos homenagear todas as mães de Manhuaçu apresentando uma mãe em particular, filha de nossa terra e reconhecida no Brasil por seu trabalho junto a crianças carentes, tornando-se uma mãe de coração de centenas de crianças paranaenses.
Dulce Primo. Natural de Manhuaçu, onde viveu até os sete anos de idade, quando mudou, juntamente com a sua família para a cidade de Belo Horizonte. E para os manhuaçuenses que jamais ouviram falar de Dulce Primo, ela é a idealizadora e ‘eterna’ maestrina da apresentação natalina mais famosa do Brasil: o Coral HSBC. Este coral há 21 anos apresenta o espetáculo natalino que emociona e encanta milhares de pessoas e é apresentado no Palácio Avenida, localizado no Centro da cidade de Curitiba (PR). Este coral é composto por 120 vozes das crianças e adolescentes das 12 casas lares assistidas pelo programa HSBC Educação.
Apesar de tão pouco tempo vivendo aqui, em todas as suas entrevistas contando sobre a sua vida, ela destaca este período vivido em Manhuaçu que, segundo a própria maestrina, foi fundamental para o seu despertar para a música. “Meu pai tinha uma venda, era um boteco e me lembro de uma vez que eu estava chegando em casa, a entrada era pelo bar. Encostado no balcão tinha um homem com o pé apoiado em um caixote tocando um violão. Passei por ali e fui até um quarto que tinha a parede fazendo divisão com o bar. Encostei minha cabecinha na cama, fiquei ouvindo aquela música e comecei a chorar... Acho que eu vim com essa sensibilidade para a música”, explica.
Em outros relatos, a maestrina destaca este período de sua infância vivida entre nossas montanhas e que também lhe despertou para o emocionante som de um coral. Ela residia com a família numa casa no bairro Coqueiro, próxima ao antigo Ginásio Manhuaçu, por coincidência, também nas imediações de onde está instalado o jornal DIÁRIO DE MANHUAÇU. 

Ginásio Manhuaçu, próximo à residência de Dulce Primo
LAVADEIRAS DE MANHUAÇU
Filha de agricultor, sua mãe lavava roupas no rio Manhuaçu para ajudar no sustento da família. Ela relata sempre com emoção sobre estes tempos: “Me formei como professora primária em 1960 e comecei a cantar na igreja, cantava em casamentos e cantava na beira do rio lavando roupa. Lá em Minas existem as histórias das famosas lavadeiras de Manhuaçu, eu participei disso porque nossa casa era na beira do rio, funcionava assim: elas (as lavadeiras) cantavam do lado de lá do rio e nós respondíamos do lado de cá. Assim comecei a analisar a beleza das vozes unidas em um só coro”, relembra.

MÚSICA
A carreira em corais começou quando Dulce Primo entrou para o Ars Nova, um tradicional coral mineiro, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A minha grande escola foi cantar no coral da UFMG, ganhamos concursos na Itália, EUA... Aí, de repente, o mundo se abriu para mim... No Festival de Ouro Preto, em 1968 eu dava aulas de músicas e estudava junto. Fiz um curso de regência em Belo Horizonte e quando cheguei em São Paulo eu já era uma regente experiente”. Dulce Primo diz que sempre foi autodidata e o que mais contribuiu para sua carreira, foi o fato de nunca se privar do novo, do diferente. “Onde tinha alguém fazendo uma coisa boa, eu pedia para entrar... Como eu não tinha uma educação musical formal, eu era livre, via todas as linhas e não tinha nenhum preconceito musical”, conta.

RAÍZES
De infância humilde, Dulce Primo jamais renegou as suas origens e este sentimento permite que ela esteja sempre ligada a projetos sociais que envolvam menores carentes. Ela está diretamente ligada ao Projeto HSBC Educação e é isso que permite a ela estar muito mais próxima da criança não como um evento, mas como educação. “Estou exercendo a arte educação aqui com o coral permanente. Eu acompanho o trabalho desde a seleção das crianças até a gravação do CD. Isso nos deixa muito mais próximos”, explica.
Com verdadeira paixão, ela sempre destaca estes trabalhos que faz com as crianças e que lhe garante o reconhecimento na mídia de todo o país: “Quando chegam aqui muitas não sabem o que é um coral. Elas descobrem que, apesar das diferenças individuais, a união das vozes é um verdadeiro trabalho em equipe. Através da música, as crianças aprendem a ter respeito quando um colega está fazendo um solo, aprendem a manter a sala organizada e a dividir o lanche”. Dulce ensaia as crianças durante o ano inteiro. A coroação do trabalho acontece em dezembro durante o Natal do HSBC, que reúne mais de 200 mil pessoas durante 14 dias de apresentação no famoso Palácio Avenida, sede da empresa no país. Entre 120 e 160 jovens de instituições assistidas pelo HSBC ocupam cada uma das janelas do prédio em uma apresentação de luz, beleza e muita emoção.

ALEGRIA DE VIVER
Ela finaliza destacando que procura incutir nas crianças o mesmo amor pela música que descobriu sentir em sua tenra infância: “Fazer o mundo mais feliz é levar alegria para as crianças, como nesse trabalho do coral infantil. O coral estimula nas crianças o interesse pela arte e lhes oferece uma oportunidade de levar sua alegria para as demais pessoas, através do seu canto”.
Fica aqui, com esta pequena apresentação desta grande manhuaçuense, a nossa homenagem especial a todas as mães de Manhuaçu.

Parte da produção deste texto foi extraído de uma entrevista concedida pela maestrina Dulce Primo ao site Hagah.


Publicado em 12 de maio de 2013.

Avenida Getúlio Vargas, no bairro Coqueiro, em Manhuaçu