Ilza Campos, a matriarca da cultura

Natural de Campos, Dona Ilza foi manhuaçuense de
coração e responsável pelos maiores projetos culturais
de Manhuaçu em sua história recente

Para uma coluna cultural com a preocupação de contribuir com o resgate da história de Manhuaçu, como pretende este espaço publicado aos domingos no jornal DIÁRIO DE MANHUAÇU, em que são retratados fatos e pessoas que contribuíram para a construção deste município, um nome não poderá jamais sofrer a injustiça de ser omitido aqui: professora Ilza Campos Sad.
Natural da cidade de Tombos, filha de João de Paula Campos e Maria do Carmo Figueiredo Campos, dona Ilza é manhuaçuense de coração e responsável pelos maiores projetos culturais de Manhuaçu em sua história recente. Ela mudou-se para Manhuaçu em 1930 para que pudesse estudar, morando na casa do irmão Amintas Campos. Porém, pouco tempo após se fixar na residência do irmão, este, por questões políticas, precisou se ausentar de Manhuaçu com a eclosão da revolução liderada por Getúlio Vargas, fugindo para a cidade de Caratinga. Com a partida do irmão, a jovem Ilza recebeu o convite para morar na casa da família de dona Jupira Wellerson. Esta parte de sua biografia dona Ilza sempre guardou com carinho, considerando a família de dona Jupira a sua segunda família. Algum tempo depois, com o retorno do irmão, ela tornou a morar com ele.
Assim que dona Ilza se formou no curso Normal, iniciou sua carreira de educadora, indo trabalhar no Colégio Manhuaçu como inspetora de alunos. Recebendo o convite do professor Juventino Nunes, ela pegou duas classes de cursos primário, que naquela época eram juntas em uma única sala de aula. Depois foi lecionar no curso Propedêutico na mesma escola e também no curso ginasial. Lecionou também geografia e história na Escola Oficial de Manhuaçu, passando a ser muito respeitada na sociedade manhuaçuense da época. Sempre progredindo passou também a ministrar aulas de ciências. 
Precursora da inovação na área da educação em Manhuaçu, ela implantou um projeto escolar com atividades extracurriculares com seus alunos. E se destaca uma excursão na Serra da Caparaó com o objetivo de atingirem o Pico da Bandeira. Para esta excursão a professora foi orientada por dois professores do Rio de Janeiro: Osvaldo Frota Pessoa e Nilton dos Santos. Eles eram professores de museu e durante esta excursão classificaram várias plantas existentes na serra. Um evento que chamou a atenção nesta viagem foi que os dois professores acharam uma bromélia cuja espécie ainda era desconhecida. Encontraram apenas sementes, que foram levadas por um cientista de nome Brad, dando o nome de Brad à planta. Conta-se que na publicação do livro os nomes de dona Ilza, da escola e de todos que colaboraram com a descoberta tinham sido consignados. Naquela época uma excursão para subir até o Pico da Bandeira era um feito para poucos e esta viagem deu bastante notoriedade para a professora e seus alunos. Em meados da década de 1950, a convite do então prefeito Altamir Garcia e do inspetor federal de Ensino José Almeida da Silva, ela foi ao Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte e se encontraram com o secretário Abgar Renault que ao ser apresentado ao grupo de Manhuaçu, prontamente reconheceu a professora dizendo “Ah! Esta é a professora que deu nome a uma bromélia e que levou os alunos ao Caparaó”.
Uma das maiores contribuições de dona Ilza Campos Sad para a cultura da cidade foi a criação da Casa de Cultura de Manhuaçu, fundada em 8 de novembro de 1981 pela saudosa professora. Em uma entrevista que a professora deu para a também professora Ivonne Ribeiro de Almeida e transcrita em seu livro ‘Fragmentos da História de Manhuaçu’, dona Ilza destaca a conquista do prédio do antigo Banco Hipothecário de Minas Gerais para transformá-lo no Palácio de Cultura.
“Estava com muita energia nesta época e tinha grandes esperanças com esta casa. Pensava, por enquanto ficaremos numa sala da 11ª Delegacia Regional de Ensino (DRE) – hoje Superintendência Regional de Ensino (SRE) –, depois conseguiremos uma casa, que será a Casa de Cultura. Infelizmente, estávamos em passos muito lentos, mas sempre tendo muitas esperanças. Tivemos imensa alegria quando conseguimos o prédio de onde havia sido a Prefeitura na rua Amaral Franco, a qual foi transferida para o prédio do Banco do Brasil, que se mudara para uma edificação maior. Continuávamos a sonhar mais alto. Agora ao invés da Casa de Cultura, seria o Palácio da Cultura”.
Neste mesmo capítulo do livro da professora Ivonne, dona Ilza falou o que representava a Casa de Cultura para ela. “Ela representa para mim o ideal, esse ideal surgiu na época do centenário de Manhuaçu. para fazermos a festa, não tínhamos onde buscar dados para realiza-la. Então idealizei fundar uma Casa de Cultura, que seria uma casa de memórias para pesquisar as coisas de Manhuaçu. Felizmente, consegui um apoio extraordinário. O Dr. Mário Assad prometeu-me e cumpriu com a sua ajuda. Sem ele, não poderia dar início ao que pretendia. Temos pesquisado muito, feito trabalhos nas escolas, e já conseguimos resgatar boa parte de nossa história”.
Uma das perguntas formuladas por dona Ivonne resumiu o pensamento de dona Ilza sobre a educação e, deste modo, demonstra a paixão desta mulher por sua profissão. A escritora perguntou a dona Ilza o que ela esperava das escolas de Manhuaçu. E a simpática professora respondeu: “Das escolas não espero, e sim de mim, de nós que precisamos da escola. Pedir-lhes ajuda, pois estes meninos são excelentes e estão sempre disponíveis para nos ajudar. Qualquer trabalho que se promova eles participam plenamente e gostam”.
Em maio de 2.006 a Casa de Cultura adotou o nome fantasia de Ilza Campos Sad, em homenagem póstuma à sua fundadora.


Publicado em 07 de julho de 2013.