Alcino de Paula Salazar

Alcino de Paula Salazar

A história de Manhuaçu se fez pelos homens que aqui viveram e deram a sua contribuição para que grandes feitos alavancassem o progresso de toda a região. Esta coluna tem dedicado seu espaço aos fatos e aos homens que deixaram a sua marca para a eternidade de Manhuaçu. E entre as biografias que foram e ainda serão apresentadas neste espaço, não poderia deixar de ser destacada a história de Alcino de Paula Salazar. Um advogado e prefeito que governou o município no período já retratado aqui como a década de ouro de Manhuaçu. E que, após o término de sua curta vida pública em nossa cidade, transferiu-se para a Capital do Brasil, então a cidade do Rio de Janeiro, se destacando como um dos maiores nomes da advocacia brasileira, escrevendo vários livros sobre leis que ainda são referências nesta área e se tornando presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Procurador-Geral da República.
A história do advogado Alcino de Paula Salazar, ou somente Alcino Salazar é digna de honrar Manhuaçu, por ter este homem em seu quadro de ex-prefeitos. Ele nasceu no dia 18 de dezembro de 1897 na cidade de São João do Manhuaçu, então um povoado pertencente ao município de Manhuaçu. Em seu currículo, que se inicia em nossas terras, ele foi advogado de nossa comarca no período de 1920 a 1930; presidente da Câmara Municipal de Manhuaçu e Agente Executivo; prefeito eleito do município no período de 1927 a 1930; transferindo-se para a cidade do Rio de Janeiro em 1931, foi advogado na Capital Federal desde então; membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), sendo advogado deste instituto e membro de seu Conselho Superior; membro do Conselho Nacional da Ordem dos Advogados; Presidente da OAB entre 1958 e 1960; membro do Conselho Federal da OAB; secretário de Estado da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara entre 1962 e 1964; Procurador Geral da República no governo do presidente Castelo Branco; membro titular da Sociedade Brasileira de Direito Internacional e autor dos livros: Responsabilidade do Estado, Reparação do Dano Moral e Ato Administrativo.
Alcino Salazar assumiu o poder executivo no dia 17 de abril de 1927 após enfrentar duramente uma disputa com o grupo político adversário, que era conduzido por seu antecessor Cordovil Pinto Coelho. A década de ouro de Manhuaçu era dividida por estes dois fortes grupos políticos: os Alcinistas e os Cordovelistas. Por muitos anos estas duas correntes se solidificaram na política manhuaçuense, construindo também forte inimizade entre si. Se de um lado o grupo liderado pelo Dr. Cordovil se empenhava pela sua manutenção no poder do município, através do Partido Republicano Mineiro (PRM), e apoiados pelo presidente da República Arthur Bernardes, o grupo liderado por Alcino Salazar pregava uma vanguarda progressista, através do Partido Republicano Progressista (PRP).
Em muitos momentos os enfrentamentos destas duas facções políticas resultaram em acontecimentos curiosos e inusitados para a nossa história. Como na inauguração do Grupo Escolar de Manhuaçu, hoje a Escola Estadual Monsenhor Gonzalez em 25 de maio de 1925. Para esta festividade, comentava-se na cidade que a famosa Banda de Música “Santa Cecília”, regida pelo mestre e compositor Filomeno dos Santos, não iria participar da inauguração por divergências políticas. O Presidente da Câmara era o médico, Dr. Cordovil Pinto Coelho, e também Agente Executivo e a Banda Santa Cecília prestava obediência ao seu rival político, Dr. Alcino Salazar. Então os organizadores da festa da inauguração enviaram ao Presidente da República, Dr. Arthur da Silva Bernardes, uma carta com um emissário narrando os fatos. O presidente da República era amigo particular do Dr. Cordovil Pinto Coelho. A resposta àquela questão veio confortadora, porém, foi guardada em sigilo completo. Ao amanhecer, o trem de ferro trouxe a famosa Banda de Música dos Fuzileiros Navais, que saiu do trem no bairro Baixada, e se puseram a tocar até o centro. A Banda subiu até o Coreto da Praça que hoje leva o nome do Dr. Cordovil, no centro da cidade, e continuou tocando. Então, no horário marcado para as solenidades, o maestro Filomeno dos Santos, uniu-se com seus músicos e subindo ao coreto a fim de cumprimentar os componentes de Banda dos Fuzileiros Navais e seu maestro, recebeu desde a batuta e, em um emocionante congraçamento, regeu as duas Bandas. Todos se emocionaram por verem os adversários unidos com o mesmo objetivo. E até mesmo esta unidade momentânea foi também motivo para novas confrontações posteriores, pois há quem conte que a Banda dos Fuzileiros Navais veio atendendo ao pedido de Alcino Salazar.
Salazar foi um homem sempre preocupado com a educação. Sob o seu governo, foram criadas em todo o município 27 escolas municipais, que contavam, nos anos 20 do século passado, com 1.567 alunos. Foi em sua gestão que teve o pedido atendido pelo então governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que transferiu da cidade de Leopoldina para Manhuaçu a Escola Normal de 1º Grau, hoje Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho, que foi inaugurada em 21 de abril de 1928, funcionando por 40 anos no prédio da Loja Maçônica, até ser transferida definitivamente para o seu endereço atual.
Ao fim de seu governo progressista, quando Manhuaçu vivenciou um grande momento em sua história, Alcino Salazar passou por momentos difíceis em consequência da Revolução de 1930, sendo obrigado a abandonar a prefeitura, que foi temporariamente ocupada pelo vice-presidente da Câmara Municipal, o capitão Antônio de Miranda Sette. O prefeito se mudou, juntamente com a sua família, para a cidade de Belo Horizonte. E da capital mineira se transferiu para a Capital Federal, onde construiu uma carreira de reconhecimento nacional.


Publicado em 30 de junho de 2013.

Antiga Escola Normal