Foto reprodução da Igreja Matriz publicada no Jornal O Democrata na semana de sua inauguração |
Cartão postal de Manhuaçu. Uma obra que foi projetada para vencer o tempo e permanecer para a posteridade. O majestoso prédio da Igreja Matriz de São Lourenço em seus 85 anos de conclusão permanece imponente no Centro da cidade e cumprindo o seu propósito, que foi o de ser erguido para se tornar um marco da fé de seu povo. É impossível não contemplá-la aqueles visitantes que aqui chegam pela primeira vez. E mesmo aqueles que aqui sempre moraram, acostumados com a sua construção se destacando na Praça Cordovil Pinto Coelho, em algum momento se permite parar e admirar sua arquitetura.
Sonho maior do Monsenhor José Maria Gonzalez, pároco recém-chegado a Manhuaçu, que procurou, em seu primeiro instante à frente da paróquia de São Lourenço, se inteirar dos problemas do lugar. E um dos problemas que entendeu que deveria ser resolvido era a construção de um novo templo católico no Centro de Manhuaçu. Sabedor que o antigo templo, construído com paredes de barro e réguas, já não comportava o grande numero de fiéis, Monsenhor Gonzalez começou a pensar na construção de outro templo maior que fosse mesmo uma construção para a posteridade. Diversas reuniões foram feitas para se discutir o assunto. E com o apoio de muitos cidadãos no dia 10 de agosto de 1917, com parcos 28 réis, lançou a pedra fundamental da nova Matriz. O passo seguinte foi organizar as comissões, todos com um pensamento, ajudar e cooperar para que o templo fosse erguido.
“O dinheiro em caixa era muito pouco, mas o ideal era muito maior. Em 1918, iniciou-se a construção e o bandeirante audaz ia pelos distritos, pelos povoados, pelos sítios e fazendas do nosso município, em cansativas viagens a cavalo, acompanhado do seu sacristão amigo e fiel servidor, Sr. João Cipriano, ia cheio de fé, angariando donativos, alimentos para os operários daquela obra de tão grande vulto”. Este relato, encontrado na página 53 do livro ‘Minha terra, minha gente’ da escritora manhuaçuense Adeuslyra Corsetti e que foi publicado no ano de 1998 traduz bem o empenho do pároco. E ainda nesta página a escritora prossegue descrevendo o resultado destas viagens: “Voltava sempre feliz, com os seus quatro burros de carga pesados de tantas coisas que ele conseguia”.
Muitos esforços, não apenas de Monsenhor Gonzalez, mas também de cada cidadão, fiel, que atendeu ao seu chamado e acreditou naquele feito. Dez anos ininterruptos de construção, até a sua grandiosa e aguardada festa de inauguração, no dia 20 de setembro de 1928. Festa esta narrada com precisão de detalhes e registrada no jornal ‘O Democrata’ em sua edição de 29 de setembro de 1928 com o título ‘A solemne inauguração da nova egreja matriz’: “O Templo inaugurado é de uma belleza classica de linhas, e de uma magnificencia que deslumbra os que a contemplam. Situada na praça principal da cidade, em uma pequena elevação, domina toda a parte central de nossa ‘urbs’, tornando visível a enorme distancia, e fazendo destacar o seu perfil elegante no céu azul e límpido. Defronte fica o jardim da praça Arthur Bernardes (hoje Praça Cordovil Pinto Coelho). As pinturas interiores executadas por artistas de nome, como o ilustrado prof. Angelo Biggi, diplomado na Itália, provocam a admiração dos mais exigentes, e o elogio dos conhecedores da arte. Além das pinturas é de notar a solidez da construção, em columnas de uma belleza puríssima. Os altares são também dignos de admiração, sobretudo o do centro onde está a imagem de SÃO LOURENÇO, que se destaca entre os demais pela perfeição de seu acabamento. A escadaria que dá acesso á porta central do templo é também muito linda, bem como os para-peitos lateraes, encimados por balaústres do mais fino gosto artístico. A parte posterior da Igreja teve perfeito acabamento, e não destôa do magnifico conjunto. É a Igreja matriz de Manhuassú o melhor e mais bello templo catholico desta Zona e attrae a attenção de todos os nossos visitantes. É uma bela oração de fé catholica, digna de imitação”.
Nas linhas seguintes deste artigo havia as homenagens ao Monsenhor Gonzalez. E no parágrafo seguinte, a relação das autoridades religiosas que vieram para a inauguração: “Estiveram presentes à inauguração que se realizou no dia 20, às 10 da manhã os srs d. d. José Pereira, bispo de Nictheroy, e d. Justino de Souza, bispo de Juiz de Fóra e d. Carloto Tavora, bispo de Caratinga, além de mais de 20 sacerdotes da vizinhança”.
E o texto desta edição do jornal se encerra destacando o brilhantismo da festa de inauguração: “A praça Arthur Bernardes estava repleta de gente, notando-se innumeras pessoas. Innumeras barraquinhas tomavam o local e o movimento nas ruas e praças da cidade foi enorme. Pessoas de todos os municípios vizinhos nos deram a alegria de sua presença, bem como concorreram com o brilho das festividades. Grande numero de automóveis enchia as ruas, que é, sobretudo, de notar, é que, reunida tão grande massa popular, não tivesse havido um único incidente, decorrendo todos os festejos na mais perfeita ordem”.
Passaram-se onze anos entre o lançamento da pedra fundamental e a sua inauguração, acontecida no dia 20 de setembro de 1928, em uma festa que se estendeu até o dia 23 daquele mês. Porém, naqueles dias de júbilo, a alegria do Monsenhor Gonzalez ainda não era completa, porque restavam muitas dívidas da construção. E o pároco prometeu que só rezaria a missa cantada na matriz quando pagasse o ultimo tostão. Apenas em 10 de agosto de 1933, exatos 16 anos após o lançamento da pedra fundamental, aconteceu a festa da entrega da obra da Igreja Matriz de São Lourenço sem dívidas. Neste dia Monsenhor Gonzalez escreveu sobre o triunfo: “A matriz ali esta de pé na sua majestosa imponência e na elegância de suas linhas, para dizer a todos do esforço de dedicação e operosidade do grande povo de Manhuaçu cuja energia, vós exmos senhores sonhastes... É o marco milionário de minha felicidade e ao mesmo tempo assina-la a confissão pública que ora vos faço... Resta-me exmo Srs. O consolo e a felicidade de poder emitir, a vontade os cheques de minhas orações contra o banco inesgotável do Coração de Jesus”.
Praça Cordovil Pinto Coelho |