Cel. Serafim Tibúrcio da Costa |
Recentemente a cidade de Manhuaçu reviveu um momento histórico de seus primórdios ao comemorar os 117 anos da ‘proclamação’ da ‘República Manhuassú’. Acontecimento que transformou o imenso e jovem município em uma república independente do Brasil, inclusive contando com uma moeda própria: o Boró. Este fato, com informações preciosas resgatadas pelo historiador e escritor Flávio Mateus dos Santos, resultou na publicação do livro ‘A República do Silêncio’, de sua autoria e que se encontra agora em sua terceira edição.
Neste ano de 2013, como forma de valorizar este momento importante de nossa história, até mesmo um selo foi emitido por solicitação da atual Administração Municipal, pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, em comemorações pelo seu 117º aniversário. De fato, o resgate da história da ‘República Manhuassú’ serviu para encher de orgulho a população desta cidade, provando a importância histórica de Manhuaçu para toda a região.
Esta mesma coluna ‘Na Lente da História’ já contou aqui a importância deste feito para a história de Manhuaçu e sobre a importância do Coronel Serafim Tibúrcio da Costa para a população daquela época. Embalada pelo calor das comemorações do aniversário daquele acontecimento, foram destacadas nestas linhas feitos heroicos realizados pelo grupo intitulado como ‘Serafinistas’, que era formado por homens e mulheres embalados pelos sonhos, ou devaneios daquele homem, seguindo-o por um caminho tortuoso que deflagrou na criação por poucos dias daquele pequeno país localizado na parte ocidental da Serra do Caparaó.
É importante visitar todas as óticas deste acontecimento. Houve, sim, os seus seguidores, homens que empunharam as armas para derrotar um poder considerado constituído de forma fraudulenta. Mas houve também o grupo oponente, constituído por pessoas não menos importantes e expoentes significativos da política e da sociedade daquela época, os homens e mulheres denominados como ‘Dolabelistas’.
Nas linhas que se seguem, a história da ‘República Manhuassú’, ou simplesmente, a rebelião liderada por um déspota, será apresentada por uma ótica diferente daquela retratada tanto durante as comemorações recentes pelo seu 117º aniversário, como também as que foram mostradas nas linhas da coluna ‘Na Lente da História’. O leitor é convidado a conhecer este importante acontecimento de nossa história pela ótica dos ‘Dolabelistas’, para que tenha a oportunidade de poder formular seu próprio julgamento dos fatos de nosso passado.
ORIGEM DO CORONEL REVOLTOSO
Serafim Tibúrcio da Costa nasceu no ano de 1851 na localidade de Jequeri, então distrito da cidade de Ponte Nova. Era filho de Guilhermina da Costa, não sendo encontrados registros de seu pai. Chegou a nossa região logo após a criação da vila de São Lourenço de Manhuaçu. Era um homem inteligente, persuasivo e trabalhador, conquistando assim a confiança de grande parte da população, ao se mostrar ora conservador, ora liberal, os dois expoentes políticos daquela época.
Pouco tempo após aqui se estabelecer, foi nomeado Coletor de Impostos, cuja função era ir de encontro com o contribuinte. Para isso enfrentava estradas e meios de transportes precários, sendo muitas vezes obrigado a indispor-se com as pessoas para cumprir a sua tarefa.
Conta-se que poucos meses após assumir esta função, foi exonerado do cargo por se ver envolvido no desfalque de seis contos de réis, quantia considerável para a época. Tibúrcio se eximiu da culpa ao repor tal quantia, sendo auxiliado pelo tenente-coronel Antônio Davi Lopes Abelha.
Foi então nomeado subdelegado, se envolvendo novamente em um acontecimento obscuro, no ano de 1890. Neste incidente, há o relato de que por ocasião das eleições estaduais em 15 de setembro, um grupo armado de garruchas e ferramentas de trabalho se dirigia para Manhuaçu sem que fosse explicado o motivo daquela comitiva, gerando intranquilidade na população. Porém, o juiz de direito da Comarca e o tabelião conseguiram convencer este grupo de retornar para sua região de origem. Mas quando a situação já se encontrava resolvida, Serafim Tibúrcio chegou e ordenou que aquele grupo fosse desarmado e detido, causando novamente intranquilidade ao ambiente.
Joaquim Geraldo, que era um dos membros deste grupo resistiu à prisão, empunhando a sua foice e ameaçando quem se aproximasse dele. O subdelegado sacou de sua arma de fogo e alvejou mortalmente aquele homem, sendo processado por este crime. Porém, ele foi julgado na Comarca apenas seis anos mais tarde, sendo absolvido deste crime por ser considerado que agiu na função de seu cargo para manter a lei e a ordem.
Por seu espírito de liderança peculiar aos políticos daquela época, foi convidado para auxiliar o coronel Costa Mattos para ser conselheiro do Partido Republicano. Seus oponentes internos do partido contavam que, com a ausência de Costa Mattos, que precisou ir para a capital do Estado, Serafim Tibúrcio à surdina criou intriga entre os próprios companheiros, dividindo os republicanos em dois grupos.
A partir deste fato, Serafim Tibúrcio da Costa continuou galgando autoridade, notoriedade e simpatia entre a população e dentro da ala do partido que lhe apoiava, sendo eleito componente da Câmara Municipal no ano de 1890. O coronel disputou em 1892 as eleições municipais, sendo eleito Chefe do Executivo. Em 1894, tentou a reeleição e foi derrotado pelo padre Odorico Dolabela, em um processo considerado fraudulento por ele, já que conquistara nas urnas 623 votos a mais do que o vigário oponente. (Segue no próximo domingo).
As informações que auxiliaram na composição destas linhas foram baseadas em um vasto trabalho de pesquisas nos arquivos da Fundação Manhuaçuense de Cultura, Câmara Municipal de Manhuaçu, Cartório do Crime e da cidade de Afonso Cláudio (ES), realizados por ocasião das comemorações do Centenário de Manhuaçu no ano de 1977, por equipes de estudantes da então Escola Normal e Colégio Tiradentes, sendo orientados pelo Sr. Ary Nogueira da Gama e que foram gentilmente cedidos por ele à coluna Na Lente da História.
Publicado em 21 de julho de 2013