Neste dia especial em que se comemora o aniversário de
importante momento de nosso país, a coluna ‘Na Lente da História’ destaca a
Proclamação da República e retorna novamente ao passado de Manhuaçu, no período
da formação da cidade e do município, através do coronelismo difundido pela
nova ordem política do país, com o objetivo de fazer uma síntese da sociedade
da época na região.
Manhuaçu, cuja região começara recentemente a ser desbravada, teve sua
colonização determinada pelo Governo Imperial para se promover a agricultura,
após a confirmação de que esta região não produziria riquezas semelhantes às de
Ouro Preto e Diamantina. Deste modo, foi a cafeicultura, devido às suas
características geográficas e climáticas, a principal fonte agrícola
desenvolvida pelos proprietários de terras.
O Brasil era uma nação predominantemente agrícola nas últimas décadas do século
XIX, com o café dominando a economia. E para sua mão-de-obra, os senhores de
fazendas cafeeiras necessitavam de lançar mão da escravização dos negros. Ao
final no período imperial, 62% dos escravos do Brasil estavam concentrados em
São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Ou seja, dos
1.540.000 escravos no ano de 1870, 955.109 encontravam-se nessas províncias.
Sendo a principal fonte de receita econômica na nação e temendo o encarecimento
da produção cafeeira com o fim da escravidão, os cafeicultores formaram um
único bloco de resistência contra a abolição. Até então o Estado imperial
apoiava-se na escravidão e era apoiado pelos escravistas. O processo
abolicionista, portanto, corroeu sua base social. O Império dependia do apoio
dos deputados eleitos pela oligarquia cafeeira para manter-se no controle do
país. Mas com a promulgação da Lei Áurea, estes deixaram de apoiar a família imperial
e o sentimento republicano, que já tomava conta de grande parcela da população
brasileira tomou ainda mais força. No dia 11 de novembro, líderes
republicanos reuniram-se com o marechal Deodoro da Fonseca, pedindo-lhe que
liderasse o movimento para depor a monarquia. Estavam presentes Rui Barbosa,
Benjamin Constant, Aristides Lobo, Bocaiúva, Glicério e o coronel Sólon.
Deodoro aceitou a proposta. No dia 15 de novembro de 1889, a República foi
finalmente proclamada.
A partir deste período teve início à distribuição de títulos de coronel para
donos de terras e pessoas de forte influência financeira no interior do Brasil.
O termo coronel no período republicano significava chefe político de um
determinado local que geralmente era dono de terras ou comerciante. Da forma
com que prestavam serviços ao Poder Executivo, os coronéis ganhavam prestígio e
força.
O coronelismo foi um período de práticas autoritárias e violentas comandadas
pelos coronéis em todo o país, não sendo diferente no recentemente formado
município de Manhuaçu. Em outras ocasiões aqui mesmo neste coluna foram
abordado inúmeros exemplos destes desmandos, que culminaram até mesmo com uma
‘proclamação da República de Manhuassú’. O coronelismo foi uma experiência
típica dos primeiros anos da república brasileira. De fato, essa experiência
faz parte de um processo de longa duração que envolve aspectos culturais,
econômicos, políticos e sociais do Brasil. A construção de uma sociedade
vinculada com bases na produção agrícola latifundiária, desde os tempos da
colônia, poderia contar como um dos fatos históricos responsáveis pelo
aparecimento do chamado “coronel”.
Na esfera local, os coronéis utilizavam das forças policias para a manutenção
da ordem. Além disso, essas mesmas milícias atendiam aos seus interesses
particulares. Em uma sociedade em que o espaço rural era o grande palco das
decisões políticas, o controle das polícias fazia do coronel uma autoridade
quase inquestionável. Durantes as eleições, os favores e ameaças tornavam-se
instrumentos de retaliação da democracia no país. E esta característica
determinava de forma explícita os ditames políticos de nossa região.
A influência cafeeira passou a determinar cada vez mais a economia de São
Lourenço de Manhuaçu. Isso fez com que pequenos produtores se transformassem em
pequenos empresários e posteriormente em coronéis. A adesão nas forças
militares com a compra de títulos militares ou a própria nomeação ajudava aos
proprietários a evitar a ameaça de posseiros invadirem suas terras. E de fato,
nenhum coronel de Manhuaçu teve suas terras invadidas por posseiros. Ao
comprarem títulos, os coronéis, majores, capitães, além de se figurarem ao lado
do governo da república recém-formada, estabeleciam relações de clientelismo
com as elites locais que figuravam no cenário político.
O investimento no café permitia a ascensão social destes grupos que figuravam
no município de Manhuaçu. Um exemplo disso foi a pessoa do coronel Serafim
Tibúrcio, que chegou ao município como vendedor de fumo e em pouco tempo chegou
ao cargo de coletor de impostos, graças ao clientelismo praticado com distintas
figuras do cenário da região. E através deste suporte político que ganhou nos
bastidores, ele conseguiu enriquecer após se tornar o proprietário da primeira
máquina de beneficiamento do grão em todo o município.
Assim como ocorreu com Tibúrcio, o coronelismo difundido largamente após a
proclamação da república brasileira estava presente no cenário da trama como o
mecanismo principal pelo qual outros protagonistas da história de Manhuaçu
tiveram o acesso ao poder público local, com instrumentos para se perpetuarem
ao mesmo tempo em que afastavam seus inimigos do poder e com o poder econômico
proveniente das riquezas geradas pelo café.
Publicado em 15 de novembro de 2013.